sexta-feira, setembro 30, 2005

Atendendo pedidos do meu irmão e aproveitando uma certa falta de criatividade (outro dia quase saiu um poema hehe) aqui vai um texto divertido do Viciado Carioca sobre o bairro onde eu estudo e misantropico de forma boêmia de vez em quando (o bar? Palpite Feliz) tomem aí:

Vila Isabel


Vou dizer uma coisa, lugarzinho que eu gosto de ir para tomar umas cervejas é Vila Isabel. Acho que é o lugar com a maior concentração de boteco sujo por metro quadrado no mundo. Não existe restrição de dia, hora, clima, higiene, raça ou higiene do copo. A qualquer momento tem uma pessoa bêbada em Vila Isabel e isso é tão certo quanto dois mais dois e mais um baralho é igual a um carteado.

O maneiro de tomar cerveja em pé sujo é porque lá existem pessoas de verdade. Ninguém se fantasia para ir ao boteco como se faz quando se vai em um barzinho na moda. Ninguém ali é o melhor, muito pelo contrário. O papo é eloqüente. Ele é vivo. Dá para tocá-lo de tão real. Fala-se de futebol e política com toda a sabedoria de um grande mentecapto. E todos estão certos, pelo menos enquanto a cerveja esta gelada. As mulheres sentam em banquinhos mínimos e jogam gimba de Derby filtro banco sujo de batom rosa no chão. Os homens ficam em pé e falam alto. Eles e ela são corpulentos tem a cara marcada pela vida e dão risadas verdadeiras. Logo, aparece alguém com um pandeiro, outro com um cavaco e cantam até altas horas. É genial. É bizarro. É inocente. É um espetáculo.

Estou falando sério. Relendo o que eu já escrevi, até parece que estou fantasiando alguma coisa, mas não estou. A realidade de Vila Isabel é uma fantasia. Coisas que aconteciam há quarenta, cinqüenta anos atrás – talvez até mais – continuam acontecendo hoje. Muitos falam que a Lapa é o grande berço da malandragem carioca, talvez estejam certos. Mas é na Vila onde qualquer um é Arturo Bandini. E naqueles bares sujo que você encontra um Henry Chinaski brasileiro. A Vila não é apenas o berço do Samba, é berço também dos músicos, dos poetas, e da sabedoria etílica. Eu duvido você ficar bêbado na Vila e não ter, pelo menos, uma idéia maneira.

É engraçado como as cervejas não exploram na publicidade essa magia de Vila Isabel. Se aquele copo pequeno e com ranhuras é conhecido Brasil a fora como “o copo de cerveja” é porque é usado em Vila Isabel. Se a batata-frita, a sardinha, o caldinho de feijão desce bem com a cerveja é porque isso é servido em Vila Isabel. O bairro inteiro é o grande bar do Rio de Janeiro e seus bêbados gordos e suados deveriam ser patrimônio histórico dessa cidade. Enquanto ninguém os tombam, eles se tomabm sozinhos pelas esquinas do bairro.

Amanhã estarei lá. Junto com toda essa rapaziada falastrona e beberrona. Vou a trabalho, mas é claro que vou tomar algumas loirinhas. Então, se você encontrar algum bêbado caído na sarjeta da Vinte e Oito de Setembro Boulervard, por favor, deixem um trocadinho para ele pegar o ônibus de volta para Botafogo.

Trilha - Pain of Salvation - People passing by

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quinta-feira, setembro 15, 2005

Da Felicidade

Felicidade é um conceito perpetuamente presente no intelecto coletivo da humanidade. Sua busca e o entendimento de sua estrutura foram temas abordados pelas mentes mais brilhantes da Antiguidade e da Idade Moderna. Dentre eles podemos separar em especial Aristóteles e Schoppenhauer.

Atualmente ser feliz parece algo muito importante. A constante pressão da mídia e a ausência cada vez mais flagrante de um consenso cultural entre as comunidades (leia-se: mídia dita a nova "cultura", que é indistinta para todos) criou uma pressão-relfexa nas mentes dos indivíduos, guiando-os pela busca de felicidade. Mas o ser humano sempre quis felicidade. O que causa frustração é a definição moderna do que é felicidade.

Utilitarismo é a filosofia que enxerga a realidade pelo seu grau de utilidade. Filósofos utilitaristas definem, pois, felicidade como a ausência de dor e sofrimento e a constante presença de prazer. É um processo lógico "inferior" já que não é aplicável à realidade, ou você conhece alguém que tenha atingido isso? Porém é uma filosofia legítima. O que não é legítimo é o uso dado a isto pelos nossos atuais construtores de paradigmas: governo, religião e mídia.

Uma massa incluída nessa idéia passa a ser um veículo otimizado de compra: compra=prazer, afastamento da dor e afastamento da idéia de morte (bem vindos à realidade). Como a massa de ilusionários pensando assim não produz nenhuma mudança positiva na realidade, acaba frustrada. Atualmente Felicidade é erroneamente igualada a: Alegria, Paixão e Prazer físico ou tátil.

Acredito que nenhum dos leitores deste blog é bobo o bastante para achar que alegria e felicidade são a mesma coisa. Prazer físico é tentador por apelar para a única coisa que todos os seres humanos têm em comum: (e que por isso seria um mínimo denominador comum) os sentidos, mas o prazer constante vai perdendo força e por si só (e não como recompensa de algo) é vazio; uma fome que não é saciável. O mais complicado é a paixão. Se seguirmos o mesmo raciocínio dos outros equívocos, perceberemos que ninguém consegue estar apaixonado o tempo todo. A paixão provoca uma resposta excessiva à tristeza e à alegria em uma pessoa. O sábio caminho do meio de Aristóteles vai por água abaixo, para aqueles que se entregam. O que há de comum nos três é uma redenção aos meios do ego (prazer físico, intelecto e o "eu" social), criando um pensamento de auto-agrado, como se cada ser humano fosse um delicado e belo floco de neve, superior ao todo cósmico.

A felicidade se encontra no cumprimento dos deveres intrínsecos em relação à realidade (alguns chamam isso de destino) sem um posterior apego aos produtos do trabalho. Fazer por fazer, pela comunidade, porque é bom, porque este "fazer" envolve um determinado número de preferências pessoais que realizam aquele que faz, porque durante esta atividade o ser conhece outros seres que pensam de modo parecido e complementar, porque este tipo de ser sente prazer com as coisas simples da vida e dá mais valor à família e aos amigos do que a ganhar dinheiro e comprar sua "felicidade".

Se a felcidade é ou não uma falácia, só depende da força interna de quem vê.

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