Atendendo pedidos do meu irmão e aproveitando uma certa falta de criatividade (outro dia quase saiu um poema hehe) aqui vai um texto divertido do Viciado Carioca sobre o bairro onde eu estudo e misantropico de forma boêmia de vez em quando (o bar? Palpite Feliz) tomem aí:
Vila Isabel
Vou dizer uma coisa, lugarzinho que eu gosto de ir para tomar umas cervejas é Vila Isabel. Acho que é o lugar com a maior concentração de boteco sujo por metro quadrado no mundo. Não existe restrição de dia, hora, clima, higiene, raça ou higiene do copo. A qualquer momento tem uma pessoa bêbada em Vila Isabel e isso é tão certo quanto dois mais dois e mais um baralho é igual a um carteado.
O maneiro de tomar cerveja em pé sujo é porque lá existem pessoas de verdade. Ninguém se fantasia para ir ao boteco como se faz quando se vai em um barzinho na moda. Ninguém ali é o melhor, muito pelo contrário. O papo é eloqüente. Ele é vivo. Dá para tocá-lo de tão real. Fala-se de futebol e política com toda a sabedoria de um grande mentecapto. E todos estão certos, pelo menos enquanto a cerveja esta gelada. As mulheres sentam em banquinhos mínimos e jogam gimba de Derby filtro banco sujo de batom rosa no chão. Os homens ficam em pé e falam alto. Eles e ela são corpulentos tem a cara marcada pela vida e dão risadas verdadeiras. Logo, aparece alguém com um pandeiro, outro com um cavaco e cantam até altas horas. É genial. É bizarro. É inocente. É um espetáculo.
Estou falando sério. Relendo o que eu já escrevi, até parece que estou fantasiando alguma coisa, mas não estou. A realidade de Vila Isabel é uma fantasia. Coisas que aconteciam há quarenta, cinqüenta anos atrás – talvez até mais – continuam acontecendo hoje. Muitos falam que a Lapa é o grande berço da malandragem carioca, talvez estejam certos. Mas é na Vila onde qualquer um é Arturo Bandini. E naqueles bares sujo que você encontra um Henry Chinaski brasileiro. A Vila não é apenas o berço do Samba, é berço também dos músicos, dos poetas, e da sabedoria etílica. Eu duvido você ficar bêbado na Vila e não ter, pelo menos, uma idéia maneira.
É engraçado como as cervejas não exploram na publicidade essa magia de Vila Isabel. Se aquele copo pequeno e com ranhuras é conhecido Brasil a fora como “o copo de cerveja” é porque é usado em Vila Isabel. Se a batata-frita, a sardinha, o caldinho de feijão desce bem com a cerveja é porque isso é servido em Vila Isabel. O bairro inteiro é o grande bar do Rio de Janeiro e seus bêbados gordos e suados deveriam ser patrimônio histórico dessa cidade. Enquanto ninguém os tombam, eles se tomabm sozinhos pelas esquinas do bairro.
Amanhã estarei lá. Junto com toda essa rapaziada falastrona e beberrona. Vou a trabalho, mas é claro que vou tomar algumas loirinhas. Então, se você encontrar algum bêbado caído na sarjeta da Vinte e Oito de Setembro Boulervard, por favor, deixem um trocadinho para ele pegar o ônibus de volta para Botafogo.
Trilha - Pain of Salvation - People passing by