terça-feira, novembro 29, 2005

Reflexões na madrugada

Eram 3 e pouco da manhã de algum dia da semana passada.. Hum... Acho que era de sexta para sábado... Bom, estava eu no computador lendo como sempre e me bate uma fome no mínimo natural. Porém, naquele microssegundo em que você leva para pensar em um mínimo de possibilidades do que quer comer, me prendi num desejo estranho: queria comer algo natural.

Eu fui pra cozinha com aquela minha idéia vaga de “comida natural” na cabeça. Olhei para o trakinas no pote e pensei “não, um biscoitinho industrializado em massa passa longe do que eu quero”. Aí pensei em comer uma bisnaguinha com margarina e um suco. Aí que começou o problema. O que teoricamente seria um lanche que, por mais que não seja o sonho de um vegetariano hindu, seria saudável, se complicou quando passou pelos meus critérios (agora mais concretos) do que seria “natural”.

A bisnaguinha é cheia de conservantes e aromatizantes, para poder durar bastante tempo sem estragar no local de venda. Aliás, essa é uma característica que acabou se estendendo para todos os itens do meu lanche imaginário: por serem produzidas em massa e para as prateleiras do supermercado.

Então pensei: o que aqui em casa poderia ser natural, caseiro, sem ligação com um velho gordo dono de uma empresa que só quer ganhar dinheiro? Um bolo da mamãe! Mas poxa, pena que não tinha... De qualquer forma, pensem no que vai em um bolo: ovos (de galinhas bombadas), farinha (também cheia de conservantes), leite (que passa por um processo absurdo para que fique viável de ser armazenado), açúcar (preciso mesmo falar?), e o resto eu nem falo mais.. Pára por aqui, porque o pobre bolinho já não passou nos critérios..

Chega. A não ser que eu comesse uma fruta do pé da árvore, eu provavelmente não conseguiria completar a minha autoimposta missão. Então passei a tentar entender o porque dessa minha idéia, que de uns tempos pra cá tem se tornado perene. Talvez porque quando eu penso em coisas verdadeiramente caseiras eu me lembro de São Lourenço e de como meus tios têm uma horta no jardim de casa, ou como é só chegar na esquina pra comprar uma galinha caipira e os bois e vacas pastam a apenas 2 km da cidade. Penso que, no fundo, nós merecíamos viver assim, nessa integração com a natureza, mas de uma forma ainda bastante civilizada. Penso que comida e alimentos são uma forma de cultura, de agregação entre seres humanos, ou pelo menos eram quando a maior cidade era ainda integrada com a produção perto da comunidade. Não sou comunista, mas creio seriamente que a industrialização massiva dos alimentos é mais um dos grandes elementos modernos que acabaram por nos distanciar ainda mais. De qualquer forma, bom apetite.

Mude para Firefox você também!Get Firefox!

sábado, novembro 26, 2005

A NeoAristocracia na música ou O texto que vai irritar muitas pessoas.

Engraçado este filme “Amadeus”. Me faz pensar que houve uma época na história da humanidade em que os superstars do mundo musical europeu eram os grandes compositores, maestros, solistas de orquestra. Aí eu lembro que o caixão de Beethoven foi seguido em procissão por milhares de pessoas. Que a Alemanha costumava esperar ansiosamente as novas óperas de Wagner. E, mais importante, que a música popular sempre existiu, em paralelo a tudo isso.

Milênios se passaram (mas não muitos), e diversas reformas foram feitas em todos os âmbitos da existência humana. O que se pode encontrar de comum entre essas diversas reformas é a crescente elevação das massas populares através do humanismo, da democracia e da lógica de mercados de massa. Inevitavelmente, a cultura européia (e de suas colônias) passou por um processo de crescente popularização, mas não no sentido de dar maior acessibilidade das artes refinadas para o povo, mas sim de uma crescente discriminação daquilo que era outrora considerado nobre e erudito e da divinização do que é popular e mais simples.

Interessante é observar, porém, como isso se deu muito mais intensamente na música do que nas outras formas de expressão cultural. Um exemplo banal-mas-verdadeiro seria o da pintura: apesar de todo o modernismo, cubismo e outras formas mais simples e ultraindividualistas de expressão, o que atrai mais as pessoas até hoje são as pinturas da época neoclássica e barroca. Agora, assista algum programa de TV que fale sobre cultura moderna (especialmente da MTV) ou então leia alguma revista da moda: o que encontramos é uma celebração da simplificação da música e do afastamento da cultura erudita dos meios de comunicação. Viva a simplicidade medíocre, fora a complexidade nobre. (Antes de continuar, um mea culpa: Existem sim, coisas simples e nobres e belas, aliás, a vida é cheia delas, e complexidade não é sinônimo de nobreza. Mas o que é simples está perigosamente perto de se tornar - vulgar).

Parece-me que isso ocorre justamente porque a música é uma das formas ancestrais de expressão humana que passou pelo mais intenso processo de modernização dos meios. Para pintar, usamos um pouco mais de técnica do que Michelangelo usava, mas para gravar músicas e fazer shows parece um outro mundo se compararmos com a música popular e erudita de antigamente. Isso permitiu, especialmente depois da década de 50, uma industrialização desta arte, e com isso trouxe para ela toda a lógica desenvolvida nos ambientes úmidos das indústrias inglesas do século XIX.

Mas meu objetivo não é estabelecer relações históricas em profundidade ou fazer uma crítica à industria cultural (Para isso leiam Theodore Adorno), e sim falar do fenômeno exposto no título. E é aqui que talvez eu vá irritar algumas pessoas: o populacho musical está presente obviamente em músicas como o funk carioca, por exemplo, que é facilmente atacável, mas e se disser que o meu maior problema é com o “bom e velho Rock n’Roll”?

Isso acontece porque, hoje em dia, o rock tomou o lugar de ouro no panteão de elementos culturais aristocratizantes. A questão é que a importância inovadora do rock chegou a seu ápice com Led Zeppelin e Black Sabbath (e não estranhamente, essas duas bandas passaram por dificuldades de magnitudes semelhantes a que se apresenta a alguém que almeja ser um compositor erudito. Elas realmente lutaram por ideais artísticos e culturais, apesar do abuso de drogas). Depois deles, mal se pode citar atos, dentro do rock, que inovaram estruturas e canalizaram energias de oposição à sociedade moderna. Porém, jovens pseudo-intelectuais enchem a boca para dizer, em oposição a outros tipos de música mais populares (e algumas vezes mais genuínas), que ouvem rock, punk (o mais domesticado, lógico, o punk rock greendayniano e seus discípulos) e, o mais doloroso, (pseudo) metal. Este último, que toca de modo especial o meu coração, nos leva à questão central deste texto.

De uma vez por todas: metal não é uma versão mais pesada do rock. Metal é metal, rock é rock e ponto. Sim, existem bandas de rock n’roll atuais que pegaram emprestado “flairs” e estéticas do metal verdadeiro (sim, eu sei que estou soando como o Detonator do Massacration) e são dessas que eu falei acima. Mas o que diferencia os dois?

Bom, eu poderia aqui falar de modo prolixo de como estrutural e tecnicamente esses estilos são diversos, mas não acho que tenha gabarito o bastante pra falar disso sem soltar uma ou mais besteiras e não quero alienar quem não conhece teoria musical. Então resumo aqui: Metal é o movimento mais puramente neoaristocrático (e não estranhamente, neoclássico e neo-romântico) na música, e provavelmente, nas artes em geral. Isto começou a ocorrer claramente na época do estouro do speed metal, quando a tosqueira necessária do punk hardcore foi sendo elaborada em complexidade nos moldes de bandas como o Led Zeppelin, no tocante à técnica do instrumento, e nos de bandas de progressivo, no tocante à estrutura narrativa e coesa de músicas que poderiam durar consideravelmente mais do que o tempo padrão para o rádio, mantendo a riffagem e o pessimismo e amor ao que há de horrível na vida, pregado pelo Black Sabbath e o The Doors. Essa mistura foi aliada ao comportamento verdadeiramente snob dos músicos e dos fãs que, também, por sua parte, procuraram na música erudita inspiração para compor e se tornaram tão críticos e fechados quanto a nobreza européia apreciadora deste tipo de música, mantendo a comunidade extremamente fechada e avessa a “novidades” (reciclagens de velhas idéias em roupagens novas: a alma do capitalismo de terceira geração – a propaganda).

A verdade é que a busca pelos ideais de nobreza da antiguidade clássica existe em vários pontos da música. Quanto mais complexas em termos de ritmos, melodias, harmonias, mais inescutável se torna a música (e é por isso que as pessoas acostumadas com o rock e o pop acham o metal, o free jazz e a música eletrônica – barulhentas). Estas formas já citadas e outras fazem parte de um só movimento, o romantismo, que nunca morrerá enquanto houver uma sociedade maximizadora dos valores mercantis-populares em detrimento da cultura local, da nobreza das ações e pensamentos, da espiritualidade e do respeito aos ancestrais e à ordem natural. Não é à toa que nestes tipos de música pode-se encontrar em abundância os mesmos temas antimodernos: ocultismo, naturalismo extremo, busca do medievalismo ou dos épicos da antiguidade, busca de uma espiritualidade pagã, virilidade, quebra de padrões rígidos, etc. É na vontade de passar uma experiência que engloba todos os aspectos, sensoriais ou não, da vida humana, de uma forma que só a música poderia fazer, é que Mozart, Bach e Beethoven são aproximados de Iron Maiden, Slayer, Sepultura, Immortal, Emperor, Angra, Stratovarius, Symphony X, Kraftwerk, My Bloody Valentine, Arcade Fire e muitos outros mais: o anseio pela eternidade.

Mude para Firefox você também!Get Firefox!

quinta-feira, novembro 10, 2005

Niilismo e a Chuva

Antes de escrever esse texto eu provavelmente deveria fazer outras coisas. Deveria dormir, deveria trocar de roupa e deveria escrever sobre a minha idéia do que significa niilismo. Das três, dá pra fazer resumidamente a última, pra não perder a inspiração.

Niilismo é o "ismo" do nihil, ou seja, a filosofia do nada. De todas as conjecturas sobre isso, podemos separar duas grandes correntes: os niilistas positivos e os fatalistas. Comecemos pelos fatalistas, já que essa definição é a mais comum entre as pessoas.

Fatalistas são aqueles que, reconhecendo a ausência de valor das coisas, já que tudo se destina ao nada eventualmente, passam a assumir uma posição de desistência apática da vida, se tornando hedonistas pessimistas. Eles simplesmente são pessoas extremamente covardes ou então mal guiadas, mas que se não mudarem de ponto de vista com a idade devem ser esquecidos e deixados pra lá. Eles tomam o niilismo como objetivo filosófico, e se você não é esperto o bastante pra perceber que ter como objetivo a ausência completa de tudo é loucura, você é doente.

Os Niilistas positivos usam o niilismo como "filosofia de portal", ou seja, não é uma filosofia que se auto sustenta, mas sim uma ferramenta que serve para te colocar num estado de mente onde tudo o que resta a nossa frente é a realidade nua e crua, sem valorações de origem humana, apenas as naturais. Isso ocorre porque, apesar de saber que o nada está lá a espreita, percebemos que continuamos vivos, e que a vida e o fato de estarmos aqui, agora, em forma de consciência é a realidade última, nada mais, nada menos. A vida não precisa fazer sentido, viver já é o sentido, e morrer é aquilo que nos faz querer buscar tudo o que é perpétuo e maior que nós mesmos, inclusive nas nossas obras.

Agora a chuva. A precipitação de água, o que tem ela a ver com o niilismo? A chuva não é algo filosófico e também não é humana. Ela cai, nós a prevemos, mas não podemos impedir. E quantas vezes ela cai sem que nós imaginassemos que ela poderia aparecer? E então as gotas caem, gordas, e vão se fragmentando pelo ar até acertarem algo na superfície. E essas micro gotas limpam o ar. Elas afastam as pessoas das ruas. Elas contribuem para a destruição de casas mal construidas. Elas matam criaturas (humanas ou não) que não souberam resistir a ela. Tudo isso da forma mais indiferente possível, da forma da natureza.

Esse é o efeito do niilismo sob a mente de uma pessoa. Vão-se as idéias e emoções entulhadas e desnecessárias, a poeira embaçante é dissipada (não sem antes a sua visão ficar ainda mais desesperadoramente turvada pelas gotas, mas uma hora ela volta, melhor.), e você fica obrigado a olhar pra dentro, a se enfrentar, a tomar gosto pela solidão - o único estado perfeito do ser humano. E quando a chuva passa e tudo volta ao normal, fica aquela tensão: uma hora a chuva voltará, quer queiramos ou não. Vamos temê-la ou aproveitá-la? Aproveitar a beleza grotesca e maravilhosa da realidade sem ceder à fuga: este é o trabalho do niilista.

[Não precisava nem colocar aqui, mas é lógico que foi aqui que eu me inspirei]

*Trilha sonora - Islands do King Crimson e Sinfonia n.25 do Mozart*

Mude para Firefox você também!Get Firefox!

terça-feira, novembro 01, 2005

Insanidade (opus N. 03)

Sabem aquelas apresentações de super heróis? tipo, para o Super-homem: mais rápido que um avião, mais forte que sei lá o que? então.. imagina isso para o Batman (que pra quem não sabe, não tem nenhum super poder). Na verdade não precisa, olha aí embaixo:

Mais rápido que uma criança e/ou um idoso

Com a audição de uma pessoa normal

Metade homem e metade.. homem

Com a força de UM homem

Tão inteligente quanto uma pessoa inteligente

Consegue ouvir seus inimigos quando estão perto ou fazem algum barulho muito alto

Com a visão de uma pessoa sem miopia

Mude para Firefox você também!Get Firefox!