Econecessidade

Engraçado como a maioria das minhas inspirações pra escrever aqui me acometem quando eu estou na cozinha da minha casa. Dessa vez eu estava, graças ao vício que eu arranjei nos meus tempos convivendo com minha amiga Amanda de BH, enchendo uma garrafa de água para tomar enquanto eu estivesse na sala. Ao pegar a garrafinha, ela estava com água até aproximadamente a metade, mas a água estava quente então joguei o resto na pia para reenchê-la de água gelada (sim, meu filtro tem água gelada na hora e eu o amo por isso).

Ao jogar a água fora me veio à mente aqueles informes da prefeitura que pedem para que não desperdicemos água. Ora, inicialmente isso não faz sentido porque água não se desperdiça, ela evapora, forma nuvens carregadas, cai em forma de chuva e continua seu ciclo (quem se lembrou daquelas figuras de livro de primeira série levanta a mão). Então me toquei que o "jogar água fora" realmente não seria um problema, se todos nós morassemos perto de reservas naturais de água. Aliás, era assim que se dava a escolha de lugares para se fixar uma casa, um vilarejo e eventualmente uma cidade, nos tempos antigos. Tudo dependia da natureza. Imaginem não ter geladeira, conservantes artificiais, entre outros. Havia uma necessidade natural de se estar perto de panoramas exuberantes e relativamente mais práticos criados pelas forças vitais para que se pudesse viver minimamente bem.

Bom, mas agora nós somos modernos e tecnológicos e não precisamos mais nos curvar a esses tipos de modelamento ecológico para sobrevivermos, e podemos viver bem longe de tudo que é natural, isso não é ótimo? Bem, na verdade não. Eu tenho dado uma falta absurda de um bom pedaço de terra sem seres humanos, um clima ameno, um contato maior com a natureza, e creio que eu não sou o único. Isso me leva - empiricamente, é certo - a reconhecer dentro de pelo menos uma parcela genética dos seres humanos uma Econecessidade que vai para além da fria adaptação às condições naturais através de raciocínios lógicos que nos levaram a ficar próximos de reservas naturais no passado. Essa Econecessidade seria também instintiva, antropológica, a ponto de mesmo estando plenamente bem abastecidos das nossas necessidades básicas provenientes da natureza, sentirmos um vazio existencial pela distância dos campos virgens e das paisagens caoticamente organizadas que só a natureza sabe proporcionar.

Eis, então, mais um motivo para o ecofascismo. Divirtam-se.